Expressão da Sensualidade da Mulher do Início do Século XX – Parte II
É com muita alegria que volto a falar sobre esta mulher que foi uma precursora no mundo literário, transformando o lugar da mulher na poesia. A partir de Gilka a mulher deixa de ser objeto de ação, de amor e de adoração nos poemas escritos pelos autores masculinos e passa a ser então a protagonista nesse gênero literário. A primeira parte para quem não leu pode ser conferida AQUI.
Em 1922, eis que Gilka surpreende com mais um livro Mulher Nua.
“O teu carinho de tal forma cresce,
e os sentidos me assume,
que, em momentos, uma arvore parece:
hauro-lhe o floreo e languido perfume;
gusto-lhe os fructos de rubente messe;
sinto roçarem-me suas franças,
em distensões longas e mansas.
e fecho os olhos para vel-o, muito lindo,
interiormente olhando-me e subindo.
e escuto nelle, qual num folhedo,
o teu beijo vibrar canções de passaredo”
Gilka Machado fica viúva em 1923, passando a viver apenas com seus dois filhos Heros e Hélius, com isso somente volta a publicar em 1928, podemos imaginar ai um período necessário à poetisa para vivenciar seu luto, até que então ela surpreende mais uma vez, surgindo novamente com nada menos que dois livros: Meu Glorioso Pecado, Amores que mentiram, que passaram e O Grande Amor ambos publicados mesmo ano, 1928.
[...] Em que a alegria chora, em que a tristeza canta,
Em que, sem te possuir, sou toda tua..
O meu amor por ti é uma noite de lua,
Mixto de ódio e paixão com que repillo e quero
Todo o teu ser do modo mais sincero,
Fugindo-te e sonhando, a cada instante,
Palpitante
De gozo
Meu corpo amado e amante [...]
Os livros de Gilka Machado influenciaram toda uma geração de mulheres tanto no Brasil quanto no exterior, a poetisa teve suas obras traduzidas para vários idiomas entre eles o espanhol. A escritora continuou recebendo homenagens, prêmios e convites ao longo de sua vida dentre os quais se destaca o convite de Jorge Amado para que Gilka Machado ingressasse na Academia Brasileira de Letras, quando essa instituição mudou seus estatutos permitindo a partir de então o ingresso de mulheres, o ano era 1976, justamente o ano em que a poetisa, aos 83 anos de idade, perde seu filho, dando por encerrada a sua brilhante carreira. E talvez por esse motivo, ela tenha declinado o convite da ABL, especulação minha. Ela escreve então o seu último poema, uma homenagem a seu filho chamado Meu Menino.
Nesse mesmo ano, 1976, Raquel de Queiroz torna-se então a primeira imortal da Academia Brasileira de Letras. Mais tarde, em 1979, Gilka Machado recebe e aceita a homenagem da Academia com o premio Machado de Assis, em 1980 ela falece.
Inúmeros estudos foram feitos sobre a mulher à frente do seu tempo e poetisa Gilka Machado, inclusive dissertações e teses de doutorado, mas como não é esse nosso , eu fico por aqui com a sensação de dever cumprido ao trazer um pouco da beleza e da plenitude de expressão que essa mulher ainda hoje exala por meio da profusão de sentimentos que ela desperta.
FELINA à minha gata
Minha animada boa de veludo,
minha serpente de frouxel, estranha,
com que interesse as volições te estudo!
com que amor minha vista te acompanha!
Tens muito de mulher, nesse teu mudo,
lírico ideal que a vida te emaranha,
pois meu ser interior vejo desnudo
se te investigo a mansuetude e a sanha.
Expões, a um tempo langorosa e arisca,
sutilezas à mão que te acarinha,
garras à mão que a te magoar se arrisca.
Guardas, ó tato corporificado!
a alta ternura e a cólera daninha
do meu amor que exige ser amado!
Encerro aqui deixando um grande abraço poético,
Sobre a colunista:
Ruth Campos, multifuncional, exceto quando em companhia de um bom livro, nesses momentos, costumo ser é 100% dele .
Oi Ruth,
ResponderExcluirNão conhecia a autora, mas adorei conhece-la.
Anotei o nome pra pesquisar mais sobre ela.
Muito obrigada por apresentar.
Beijos
Ameiii!
ResponderExcluirpoema lindo, assim como o layout do blog *-*
Eu amo poesia, mas ainda não tinha tido acesso as estas informações, vlw! hehe
Bjoos
Blog Jovem Literário