Resenha: O Céu é Logo Ali, de Lilian Farias

  Sinopse:

"O céu é logo ali representa a liberdade que são as borboletas e nos pássaros. Dolores e Clarice são mulheres que buscam tal liberdade. Dolores é uma mulher de muitas experiências; de vida simples e sem amigos. O único amigo que possui é esquizofrênico e a trata com muito carinho. Clarice é cheia de mimos e sempre teve de tudo, mas o que as liga são suas tribulações de sentimentos e busca por liberdade. Dolores fica encantada com o mais simples dos gestos, um pingo de chuva sobre a pele faz dela a pessoa mais feliz e livre do mundo. Já Clarice tem a vida dos sonhos, porém o destino pode destruí-lo com rapidez. O livro da Lilian é profundo e tocante. Ele nos mostra que devemos aproveitar o momento porque tudo pode acabar em um piscar de olhos." (Fernanda Bezerra)

"Ao adentrarmos nos mundos distintos dessas duas jovens, mergulhamos numa profusa miscigenação de anseios, lutas, estratégias de sobrevivência. A história de duas mulheres que, unidas pelo destino, resolvem aflorar todo fluxo de sobrevivência do "ser", do corpo, da alma, da mente, que advém quando se é permitido ser livre. Liberdade, essa, assemelhada a quem saboreia o voo das borboletas." (Valéria Sabrina)

Título: O Céu é Logo Ali, Encontros para a Liberdade

Autora: Lílian Farias

Ano: 2011 / Páginas: 126

Idioma: português

Editora: Literata

Olá Flores,

Não é raro eu perceber no trabalho da Lílian Farias, tanto no seu blog quanto em sua obra literária, uma identificação muito forte com momentos meus que, enquanto mulher e leitora estou vivendo e aprendendo. Pode inclusive parecer pretensão de minha parte dizer isso mas, percebo uma certa sincronicidade entre nós, note, pode parecer mas não é  visto que ambas, eu e ela, buscamos um caminho significativo para a nossa existência cada uma a sua maneira e é por isso que muito me toca falar hoje a vocês leitores, um pouco sobre a obra O Céu é Logo Ali – encontros para a Liberdade pois este livro vem justamente falar das relações que estabelecemos com outras mulheres  e com nós mesmas  em vários níveis dentro de uma realidade concreta e psicológica.

Há poucos dias estive falando em uma resenha sobre as borboletas que eram na referida obra um personagem importante, no romance de Lilian elas também se apresentam como tal  porém enquanto na obra Em Busca dasBorboletas elas representam aquele frisson ou adrenalina que sentimos quando “pressentimos” ou  antevemos algum acontecimento significativo para nós sem no entanto dar nomes a eles ou qualifica-los. A Lilian faz questão de frisar o significado das borboletas em sua obra, a saber; liberdade para se despir do velho e transformar e/ou se permitir transformar para ser livre e alçar novos voos.

Eu não pretendo aqui falar de nada técnico primeiro que existem pessoas capacitadas para tal oque não é meu caso e segundo que considero isso relevar a obra a um objeto que sim é importante, mas não fundamental para compreensão da escrita da autora.  O que posso dizer de mais próximo a isto é que a autora intercala a narrativa sobre as duas personagens Clarice e Dolores, cada uma em seu universo e que o fluxo da escrita vai naturalmente conduzindo as histórias para que estas convirjam no final.  A leitura é leve e muito gostosa e nos conduz enquanto leitores a uma autorreflexão que considero importantíssimo a toda boa literatura. A veia poética da autora aparece a todo instante na sua forma de escrever e falar da vida simples e cotidiana, mas cheia de desejos, sonhos e vontades destas duas mulheres.

Enquanto Dolores é uma mulher madura e solteirona que passa pela vida sem ser notada e sequer amada permanece a espera não se sabe nem de que ou de quem. Dolores não se percebe bonita ou desejável e para ela é como se o despertar da mulher selvagem ainda estivesse adormecido. Já Clarice é uma jovem mulher desde muito nova acostumada a viver intensamente e a ter tudo que desejava nas mãos, beleza, dinheiro, viagens, namorados, é amada por todos.

Viver Intensamente... O que seria isso afinal de contas? Passar os anos apenas refletindo na vida e aprendendo com ela ou fazendo coisas sem nada aprender com isso?

“A outra continuava a lamber pela face e entrelaçar suas pernas, formando uma prisão com prisão com gosto de liberdade. Ela beijava a boca de Dolores, como só uma mulher apaixonada é capaz de fazer, e deixa a face vir à luz. E Dolores vê o próprio rosto”. pg. 36

Quando li o trecho acima fiquei assombrada, pois poucos dias antes havia escrito um poema chamado EU falando deste encontro amoroso pessoal e que Dolores ali também passava num encontro consigo mesma dentro de um sonho. O quanto cada uma delas é real ou projeção do desejo uma da outra?

Flores, a narrativa deste livro é sem tempo cronológico e eu não saberia dizer se Dolores passou a se perceber mulher dentro de um sistema de coisas quando chegou seu tempo certo ou se isso se deu a partir do momento em que Clarice se viu privada de tudo oque ela entendia como vida e felicidade, passando assim a viver por meio dos sonhos em uma experiência extracorpórea.  Nesta realidade paralela que se formou surgi uma ponte que liga as duas personagens. Enquanto Clarice luta por aprender algo com os dissabores da vida de Dolores, Dolores por sua vez passa a sentir necessidade de dar asas a mulher que ela é assim como Clarice muito bem o fazia.

Esta é uma obra que nos leva a entender o quanto precisamos umas das outras, que podemos sim aprender com as outras mulheres, suas histórias de vida, suas lutas pessoais por felicidade e realização.  Entender até mesmo como voar mais alto e mais longe.

E para concluir deixo uma reflexão a todas sobre o quanto destas duas mulheres moram dentro de cada uma de nós e o quanto precisamos entender  em nós mesmas esta necessidade de transformação e de liberdade.

Abraços Poéticos,