Resenha: Atarantada de Noélia Ribeiro

Ano: 2014 / Páginas: 80
Idioma: português
Editora: Verbis Editora

Olá leitores,

Mais um livro poemas e poesias que movem com nossas entranhas nos levando a confrontar os nossos sentimentos e as múltiplas faces do nosso Eu.  Vocês já estiveram dentro de um ônibus lotado que de repente o motorista da aquela freada brusca e todos os passageiros vão lá à frente e voltam, então tem sempre aquele engraçadinho que grita; Tá arrumando a carga motorista? Você ri ou chora ou você ri e chora.

É quanto você percebe que tudo permanece igual, porém nada mais é como antes, porque houve um evento que tirou tudo da ordem.

A leitura do livro Atarantada de Noélia Ribeiro teve o sabor de uma descida no tobogã de parque aquático, rápida, perigosa, sinuosa, desafiante cuja única certeza era de que existia uma trajetória e um destino, mas todo o resto era mistério e descarga de adrenalina no sangue. Restando-me apenas fechar os olhos ou arregala-los bem para curtir a aventura. Eu escolhi a segunda opção.

E quanto mais eu lia mais eu me deliciava,

Atarantada

Amo o homem que me deixa atarantada

A olhar para o teto do quarto,

Sem saber o que fazer ou dizer.

Amo aquele que me arranca lágrimas

E me paralisa de hesi(exci)tação.[..]

Certamente amo muito mais,

Porque sinto as dores do parto e da morte

Quando encontro esse homem,

Como se algo estivesse nascendo

E me matando aos poucos.

Eu não pude deixar de mais uma vez comprovar o quão distintas somos nós enquanto mulheres e tão semelhantes nas nossas paixões, cabendo a cada uma decidir o que melhor fazer com elas, como externa-las ou onde guarda-las.

Encaixe

Fiquemos a sós

A confrontar

Nosso dilema

Do querer e do poder.

A fresta de liberdade.

Que ilumina o quarto

É bastante

Para desmanchar no ar

A solidez

De nossas vidas santas

Ao léu.

Fiquemos sem voz

Sem nós na garganta

Na qual se encaixam

O teu sexo e o meu.

E o nosso querer vai se delineando com o tempo, e o entendimento que adquirimos com ele vêm nos dar conselhos.

Além da Razão

Lamento

Mas não posso ser

Cão de guarda

Do seu querer.

Desejo escondido

Não tarda, aparece.

Aí nem com reza forte

Arrefece.

Por isso

Deixo-o voar alto

Além do que se pensa,

Até o inexplicável,

Sua maior recompensa.

Uma plenitude de emoções reviradas e recolocadas que só me deixaram a opção de suspirar, mas não como mocinhas de novelas e sim como mulher que guarda no fundo dos olhos um milhão de segredos.

Boquiaberta

Se ao te beijar

Pedir que abras os olhos

Não te impressiones.

È que da mesma forma

Que minha boca deseja a tua

Meus olhos querem os teus.

E nas palavras do compositor Aloísio Brandão: Noélia escreve com a força dos poetas maiores.  A sua poesia é profunda, complexa e simples, a um só tempo [...] As palavras surgem, como se somente aquelas - e jamais outras palavras coubessem ali. [...] Ela sabe colhê-las com o zelo da rendeira, que faz uma longa colcha, sem deixar sobrar ou faltar um único ponto, uma só rendilha.

Sobrando a mim apenas uma coisa, ficar junto com a poetisa, atarantada, Eu toda misturada na mulher que sou, mais a que fui e a que ainda serei um dia.

Sobre a autora: Noélia Ribeiro

Noélia Ribeiro é pernambucana, mas se considero carioca. Com 03 anos de idade chega a Cidade Maravilhosa e lá escreve seus primeiros poemas, aos 09 anos. Na década de 70 sua mãe foi transferida para Brasília onde mora. Publicou o livro “Expectativas” em 1982 e em 2008 fez parte da coletânea “Talento Brasileiro em Prosa e Verso” publicada pela Editora REBRA.

Atarantada no facebook

Resenhista:

RuthCampos

Um grande abraço poético.